terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O que é mais importante: chegar ao objetivo ou o caminho que leva a ele?

Essa dúvida tem me cutucado esses dias. Valem todos os meios para se chegar aonde se quer ou isso é irrelevante?

A gente pode se tornar rico trabalhando ou roubando, numa comparação bem grosseira. Mas essa escolha faz mesmo a diferença?

Uma vez eu ouvi que os pais devem ficar muito atentos às suas atitudes, porque eles são espelhos para os filhos. Tem até uma música do Nando Reis que fala isso: “...eu amarro o sapato da mesma maneira, por influência dos meus pais...” Essas atitudes a que se referia a matéria eram das mais complexas às mais simples, como aquela mãe ou pai que fala para o filho que há leis de trânsito e que elas precisam ser respeitadas mas que, na hora de um congestionamento na estrada a opção escolhida é ultrapassar pela direita ou pelo acostamento, afinal não é uma infração grave... ou quando a gente fala que é preciso obedecer aos mais velhos e se reportar a eles sempre, mas quando @ filh@ apanha na escola, os pais dizem que era para ele revidar (numa clara desobediência às leis daquele estabelecimento e “esquecendo” que o/a professor/a é a representante legal/ é @ adult@ naquele momento). Eu mesma já fui surpreendida com uma repreensão da minha filhota por estar dirigindo e falando ao celular ao mesmo tempo. E isso me fez ver que, ao contrário do que pensava, ela (a filhota) estava atenta ao que eu fazia mesmo, como tanto falam os psicólogos. Porque mais importante do que o que a gente diz, é o que a gente faz.

Penso que a gente precisa ficar atento especialmente ao que a gente faz, e se esse fazer está de acordo com o nosso discurso. É muito fácil termos um discurso de honestidade, de justiça e de respeito, acreditamos inclusive que somos hiper corretos, mas no fundo, no fundo nossas atitudes podem caminhar no sentido contrário ao que falamos. E só percebemos isso quando paramos e avaliamos nossa prática, numa atitude que pouco adotada e disseminada na nossa cultura. Por isso é importante parar e olhar pra trás, para nos certificarmos do que estamos fazendo.

Ultimamente eu fico me perguntando o que é mesmo importante: só chegar ao objetivo, de qualquer jeito, ou se o caminho também se faz – ou é o mais - importante. E eu penso que tudo isso que falei acima está no mesmo caldeirão, pois faz parte da nossa vida.

Acredito que contextualizar pode nos ajudar nessa reflexão. Vivemos numa sociedade onde o nível de competição é extremo. Todos competem contra todos, todos são inimigos de todos e Deus (pra quem acredita na existência) que vele por todos. E, no meu entender, essa competitividade elevou demais as exigências que cada um para com o outro e consigo mesmo. É uma verdadeira loucura. Sentimentos como confiança, respeito e amizade são cada dia mais esquecidos e a desconfiança, o medo, a crença de que o outro quer ocupar o nosso lugar vai nos deixando, cada dia, mais enlouquecidos. Vivemos num estágio de puro delírio, mesmo sem usar qualquer psicotrópico – aliás, estes têm servido para nos desligar desse mundo real.

Vamos seguindo, cada vez mais desconfiados, trabalhando além do que podemos porque não confiamos em quem está ao redor para cooperar e coordenar a mais simples das tarefas. E assim, o outro que é meu “eterno inimigo” (não seria “pseudo-inimigo”?), torna-se vítima da minha desconfiança e do meu medo, passando a ser meu algoz, porque ele pode nem ser (o algoz), mas eu não posso me dar ao luxo de pensar que ele não o é. Eu tenho que estar alerta, atento a qualquer movimentação – e preparar o contra-ataque. E se eu estou num local de “privilégios”, mais motivos tenho para me “cuidar”. Esse lugar é meu e apenas eu devo desfrutá-los.

E desse jeito vamos fingindo que estamos trabalhando em equipe e que a confiança mútua é a marca do grupo. E até que há diversos caminhos. Mas que são trilhados individualmente, até porque, no fundo, não existe grupo, não existe equipe. Não há o que partilhar.

Tem uma frase que eu vivo dizendo: “eu nasci no tempo errado!” e eu acredito nisso mesmo. Eu deveria nascer daqui a uns 500 anos à frente – ou mais. Quando a sociedade estiver mais evoluída. Quando chegar o tempo em que tenhamos aprendido a fazer como os orientais que vivem e valorizam o ritual do chá. Para eles o caminho é mais importante, assim como para mim. Onde o cuidado e o afeto que permeiam a preparação serão o que há de mais importante.

Acredito que a gente só pode saborear bem aquilo que participamos da semeadura.

É nisso que eu acredito...

caminho de pincel daqui