segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Num mundo de diferenças

A tela se abre e aparece a imagem de várias crianças negras, meninos e meninas. Na frente delas duas bonecas: uma branca e outra negra. No fundo uma voz de homem faz as perguntas: qual das bonecas é negra, qual é bonita, qual é má, qual é legal, qual é feia e finalmente, qual era a que se parecia com a criança questionada. Para todas as questões que se remetia a beleza e gentileza as crianças, meninos e meninas, apontavam para a branca e quando questionadas sobre o porquê, elas respondiam porque as bonecas eram de pele branca e olhos azuis. Para as perguntas que se referiam a cor, maldade e feiúra, estas associavam as bonecas negras. Esse vídeo tem duração de 1’08 e circula no canal Youtube.com desde março de 2009,  com mais de 210 mil acessos.




Esse vídeo nos remete a uma discussão que não encontra espaço nos periódicos tradicionais e só pode ser aqui comentado por conta de mecanismos alternativos de comunicação. Afinal estamos falando de temas muito caros para a sociedade brasileira e que não necessária e intencionalmente está na “boca do povo”, mas existe de forma cada vez mais sutil. Estamos falando de racismo, mídia e infância na sociedade brasileira e como a construção simbólica do um modelo do que pode ser o belo desencadeia e reafirma o racismo.
 
Segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo, em 2004, 87% dos brasileiros reconheciam o racismo no país, mas apenas 4% se reconhecia como racista. No entanto, há algumas semanas, em Belo Horizonte, uma menina negra de quatro anos foi agredida pela avó de um menino branco que questionou, aos gritos e na frente de toda a sala de aula o porque de terem deixado o neto dela dançar quadrilha com “uma negra e preta horrorosa e feia”.  A diretora da escola, que é particular, sequer fez qualquer gesto para evitar o crime, tampouco informou aos pais da menina o ocorrido. O caso só veio à tona porque a professora, que testemunhou tudo, inconformada com a situação, pediu demissão e denunciou à família da menina o que ocorreu. O caso está sendo apurado.
 
Nascemos preconceituosos ou nos tornamos preconceituosos?
 
Mas como uma pessoa se torna preconceituosa? Como uma pessoa se torna racista? Já é sabido que as crianças nascem sem qualquer conteúdo preconceituoso, como bem afirmou Nelson Mandela “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. Os conceitos preconceituosos, sejam eles machistas e racistas, especialmente, bem como outros, são incutidos por meio de influências ou vivências com outras pessoas, especialmente no ambiente familiar e escolar. Não raro vemos crianças que, ao voltar da escola, apresentam “falas” que destoam do ambiente familiar, e que externam uma associação da cor negra com a sujeira. Outras seguem o caminho contrário, já chegam na escola com essas falas.
 
Daí a importância de pais, mães e educadores estarem atentos a estas questões. Pois é na infância que se dá o desenvolvimento dos valores, que são absorvidos com mais intensidade e também onde os estereótipos raciais vão sendo sedimentados. Neste momento é muito importante a atenção e o cuidado com os brinquedos e os programas televisivos que serão disponibilizados às crianças, especialmente por conta do conteúdo publicitário dirigido a elas. Segundo o Instituto Alana, organização não governamental de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes em relação ao consumo em geral, bem como ao excessivo consumismo ao qual são expostas, as crianças são mais vulneráveis que os adultos e sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo, por estarem em pleno desenvolvimento.
 
A influência da publicidade é percebida na escolha dos produtos, na maioria das vezes brinquedos e alimentos, que são feitos pelas crianças quando em contato com essas informações direcionadas e abusivas. Ao contrário dos meninos que são sempre desafiados a ultrapassar limites, explorar as habilidades do corpo e do espaço, às meninas são reservados os brinquedos que remetem ao cuidado com os outros seres, com os cuidados excessivos e precoces com o corpo, e não com elas mesmas, e à casa sempre em forma de castelo. Há sempre uma predominância da cor rosa, que é o delicado, em contraponto ao azul, que remete a fortaleza e conhecimento, dos meninos. Isso ultrapassa as cores das roupas e vai até a representação simbólica de diferenciação de gênero, apesar das diversas matizes de cores. E para além e juntando tudo isso a representação das bonecas, uma peça exclusivamente do feminino, com a definição de que o que é belo é o corpo magro e esguio, loiro, traços finos e olhos claros, ainda que sejamos um país marcado pela miscigenação. Dessa forma, sutil, pulverizado e constante, os conteúdos racistas e também machistas vão entrando nos lares brasileiros sem nem mesmo os pais e mães se darem conta.
 
E o Estado, onde está?
 
No entanto, um aspecto que merece toda a atenção da sociedade, uma vez que as crianças são seres prioritários para o Estado, com direitos assegurados na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente, são os efeitos que o racismo e a discriminação racial têm na infância de crianças negras. Para estas meninas e meninos o impacto da publicidade excludente é muito mais nocivo do que para as de cor branca. Isso é percebido na negação dos próprios atributos físicos como cabelos, pele e nariz, na negação da própria negritude explicitamente, num exercício de distorção da auto-imagem; ou ainda na rejeição da própria família devido à vergonha da aparência de seus entes.
 
Para a psicóloga Roberta Federico, as crianças reproduzem o que vêm no contexto social, de forma explícita ou velada. “Não é preciso que se diga explicitamente para uma criança que as pessoas negras têm menos valor que as pessoas brancas para que ela absorva essa ideia. Basta colocá-la diariamente diante de qualquer canal de TV brasileira, onde dificilmente ela se verá representada de maneira positiva”, explica.
Em cima disso, o Doutor em Comunicação pela ECA-USP e cineasta, Joel Zito Araújo, faz uma reflexão sobre as vantagens de se nascer branco e as desvantagens de se nascer negro no Brasil. “O espelho que é colocado diante de uma criança negra diz: ‘ Você é feio, você pertence a uma raça inferior, você é a imagem da pobreza, você está destinado à subalternidade’. Enquanto o espelho que é colocado diante de uma criança branca diz: ‘Você é lindo, você é superior, você é predestinado’”. No seu discurso de ideologia do branqueamento ele diz que a mídia exerce um papel fundamental na nossa não discussão sobre o tema do racismo.

No entanto, a discussão do racismo está posta na mídia só que em dois lugares, seja nos jornais, nas telenovelas, no cinema ou outros meios. O primeiro é o lugar da invisibilidade. E o segundo é o do rebelde, dos filhos rejeitados e excluídos, das empregadas domésticas, dos serviçais. Às crianças negras, são sempre as deseducadas, as sem inteligência, as ligadas à malandragem e que, atualmente aparecem apenas para cumprir o parâmetro da diversidade. Enfim, adultos e crianças sem quaisquer possibilidades de ascensão social. “Todos eles, portanto, são obrigados a incorporar na televisão a humilhação social que sofrem os mestiços em uma sociedade norteada pela ideologia do branqueamento, em que a acentuação de traços negros ou indígenas significa a possibilidade de viver um eterno sentimento racial de inferioridade, e uma consciência difusa e contraditória de ser uma casta inferior que deve aceitar os lugares subalternos intermediários do mundo social”, afirma Araújo.

Os números da violência
 
Apesar do país não se considerar racista, as pesquisas dizem o contrário. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2010, 54,5% de todas as crianças e adolescentes brasileiros são negras ou indígenas, ou seja, 31 milhões de meninas e meninos são negros e 140 mil são crianças indígenas. Vinte e seis milhões vivem em famílias pobres, representando 45,6% do total de crianças e adolescentes do país. Desses, 17 milhões são negros. Entre as crianças brancas, a pobreza atinge 32,9%; entre as crianças negras, 56%. A iniquidade racial na pobreza entre crianças continua mantendo-se nos mesmos patamares: uma criança negra tem 70% mais risco de ser pobre do que uma criança branca.
No caso das mulheres, além das violações comumente sofridas pela condição de pobreza e outras, há aquelas situações de violência exclusivamente por serem mulheres, e isso insere as meninas.  Segundo ela, nem todas as pessoas e nem todas as mulheres estão expostas à violência da mesma forma. Alguns grupos de pessoas têm muito mais chances de sofrer violência e, determinadas violências, que outros como é o caso de meninas e mulheres negras. O que caracteriza a sociedade brasileira enquanto ente machista, racista, elitista, heteronormativa, adultocêntrica, urbana onde os processos de violência e os impactos são vividos de maneira diferente pelas mulheres e são reveladores das condições de vida, bem como das circunstâncias a que estão submetidas enquanto sexo, raça, idade, lugar onde moramos, orientação sexual, etc.
 
No que se refere a violência física e sexual, embora o estudo “Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre igualdade de gênero 2010” realizado pelo IPEA tenha revelado que a maioria das pessoas entrevistadas considera que a violência contra a mulher é de responsabilidade da sociedade como um todo e que as agressões devem ser investigadas pelo Estado mesmo que a mulher não queira, dados do PNAD/IBGE apontam que 2,5 milhões de pessoas com mais de 10 anos de idade já sofreram algum tipo de agressão em 2009. Destas, pelo menos 40% eram mulheres e 1/3 delas foram agredidas por parentes, companheiros ou ex-companheiros, responsáveis por mais 25,9% do total de agressões [1].
 
Já pesquisa da Fundação Perseu Abramo realizada em agosto de 2010 revelou que a cada dois minutos cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil e que pelo menos 7,2 milhões de mulheres com mais de 15 anos já sofreram agressões desde 2001. No tema da exploração sexual, as vítimas desse tipo de crime, em sua grande maioria, são adolescentes entre 15 e 17 anos de idade, quase sempre negras ou indígenas, segundo Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres e Crianças para Fins Sexuais (Pestraf, 2001).
 
Tal situação reforça o pleito de parte da sociedade civil que vem discutindo os temas da violação de direitos de crianças, adolescente e mulheres de que é necessária uma presença, cada vez maior do Estado por meio de políticas públicas efetivas e contínuas. Por outro lado, faz-se necessário e urgente também reconhecer que as situações de violência não são questões a serem discutidas e resolvidas entre quatro paredes. Ela é um problema não da relação privada, mas uma questão pública e até civilizatória, porque não é possível o avanço de qualquer sociedade enquanto houver desigualdades entre homens e mulheres.


[1]     Fonte: Chaga Social: 767 mulheres são agredidas por dia no Brasil (http://mariadapenhaneles.blogspot.com/2011/02/chaga-social-agressao-de-mulheres.html capturado em 29.02.2011)

P.S.: Este texto está participando do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento e foi publicado inicialmente no Infância Livre de Consumismo

domingo, 5 de agosto de 2012

"Mãe eu quero. Você compra?"

A frase do título, que muitas vezes culmina em uma discussão, tem feito parte do dia a dia da maioria das famílias brasileiras nos últimos tempos. Discutir os limites das crianças frente ao que é apresentado nas televisões, via publicidade, é algo que muitas vezes está além do alcance das mães, pais e até educadores. Não raro vemos matérias, baseadas em pesquisas ou estudos psicológicos, que desvendam os caminhos para a atuação, para não dizer manipulação e controle, sobre o público infantil numa tentativa de reforçar o apelo de compra.

Contrariando um caminho trilhado, há anos, por diversos países com democracias consolidadas, como a Suécia, Alemanha, Austrália, Espanha (Catalunha), Chile, Estados Unidos, Holanda, Nova Zelândia, Portugal e Reino Unido, o Brasil continua permitindo que a publicidade seja direcionada ao público infantil. Mesmo que a criança e o adolescente sejam considerados públicos prioritários pela Constituição brasileira e reforçado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), eles continuam sendo alvo das propagandas e do merchandising, instrumentos da publicidade,que os utilizamcomo mecanismo de “fidelização” de um futuro consumidor e, ultimamente, definidor de compras da família, numa estratégia de infantilizar o adulto e dar uma ideia de maturidade às crianças, numa troca de responsabilidades vil.

O que é mais estranho é que todas essas ações, que são consideradas violações de direitos, dão-se no espaço público do audiovisual, ou seja, nas rádios e televisões, que são concessões públicas. Para ser mais clara, é de propriedade do Estado o espectro eletromagnético que é temporariamente cedido a determinadas empresas de comunicação. E como parte das regras desta concessão está a atenção ao que já é estabelecida em lei, como informado no parágrafo acima. Como afirma o mestre em Ciência Política, pela Universidade de São Paulo, professor Guilherme Canela, “se o Estado (governo e sociedade) acorda institucionalmente que esse recorte etário merece prioridade absoluta, à mídia não é conferido nenhum salvo-conduto para se escusar de cumprir suas responsabilidades, especialmente porque radiodifusores são operadores de concessões públicas do Estado e da sociedade”.

Programação para todos os públicos

Esse “descumprimento” do acordo entre o Estado e o mercado ultrapassa também outras esferas, como a regulamentação do setor, defendida por organizações da sociedade civil e pesquisadores da área. No Brasil, o próprio mercado publicitário regulamenta toda a publicidade mercadológica por meio do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que estabelece as normas e julga os casos que porventura sejam enviados por entidades representativas ou cidadãos comuns. Para o presidente da entidade, Gilberto Leifert, as tentativas de regulamentação revelam que o Estado não acredita no poder de discernimento do cidadão. “É um evidente paradoxo. Muitas vezes, o projeto de lei ou a intervenção do Estado sugere que o cidadão é considerado plenamente capaz apenas para constituir família, eleger representantes políticos, pagar impostos, mas seria incapaz de fazer escolhas a partir da publicidade”, afirma.

Outra prova da complexidade do que estamos falando se deu com a retirada do programa infantil diário TV Globinho, substituído por um voltado para o público adulto capitaneado pela jornalista Fátima Bernardes nas manhãs na TV Globo. A emissora, que já chegou a apresentar O Sítio do Pica-Pau Amarelo, Vila Sésamo e Xou da Xuxa, apresentou como argumentação que a grade infantil não dá nem audiência, nem receita publicitária, e diz seguir tendência internacional de deixar as crianças para a TV paga. Segundo a empresa, o canal fechado seria um espaço menos sujeito a controle externo, como classificação indicativa, sugerida pelo governo e proibições à publicidade infantil (como limite à propaganda de alimentos e ao uso de desenhos para seduzir o público-alvo). “O segmento infantil está na TV paga porque lá não tem censura nem restrição à propaganda”, diz Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. Importante questionar, neste caso, como ficam as crianças que não têm TV paga, já que o lazer e entretenimento também são direitos e a TV é uma concessão pública? Isso sem falar que como concessionária de um serviço público a empresa deve cumprir com o regulamento que prevê programação para todos os públicos.

Direito de ter brinquedo

Mas muitas pesquisas e estudos também são realizados para medir o impacto da publicidade no desenvolvimento psíquico e emocional, atual e futuro, das crianças e adolescentes. E os resultados são alarmantes. Segundo o Instituto Alana, organização não governamental de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes em relação ao consumo em geral, bem como ao excessivo consumismo ao qual são expostas, as crianças são mais vulneráveis que os adultos e sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo, por estarem em pleno desenvolvimento. Para o Alana, são consequências danosas à exposição excessiva a obesidade infantil, a erotização precoce, o consumo precoce de tabaco e álcool, o estresse familiar, a banalização da agressividade e violência, entre outras.

Mas como não se mudam leis e costumes num passe de mágica, algumas tentativas de minar o poderio do mercado e proteger as crianças têm sido realizadas. Cabe registrar que está em tramitação no Congresso Nacional, há mais de dez anos, um projeto de lei que proíbe a publicidade de produtos infantis (PL 5921/01). O texto, de autoria do deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP), que faz parte da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, já foi alterado nas comissões de Defesa do Consumidor e de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. Para o relator, “é necessária uma lei sobre publicidade infantil porque o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) não tem sido eficaz”. Depois que Zimbaldi apresentar o parecer, a proposta seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça em caráter conclusivo.

O anteprojeto encontra bastante resistência por parte do setor empresarial, especialmente o de brinquedos. Para o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), que também é presidente da Fundação Abrinq, Synésio Batista, a publicidade infantil é fundamental já que toda criança tem o direito de ter brinquedo e a publicidade ajuda a aumentar a produção, despertando o interesse e deixando a criança informada, “não se oferece um produto dizendo o que ele não tem”, afirma Batista.

Discurso mágico

Outra forma de quebrar o bloqueio empresarial está na capacidade de organização da sociedade. Já é possível perceber que há intervenção de diversos setores desta na defesa pela regulamentação e isso tem mexido na estrutura de poder e aberto diversas frentes de debates sobre o tema criança e consumismo, especialmente nas redes sociais. Por conta disso, algumas campanhas publicitárias foram tiradas do ar. A mais recente foi o parque Mundo da Xuxa, que foi notificada pelo Procon/SP, e não pelo Conar, que apresentou como justificativa “o potencial de induzir o público infantil a atitudes que gerem risco à segurança e a saúde”. Importante registrar que esta campanha só saiu do ar depois que o coletivo Infância Livre de Consumismo (ILC), junto com outros movimentos e organizações, registrou queixas contra a propaganda. Este é outro exemplo de organização. Já as empresas Nestlé, Mattel, Habib’s, Dunga Produtos Alimentícios Ltda. (Biscoito Spuleta) e Roma Jensen (Roma Brinquedos) receberam as multas, também do Procon/SP, na semana passada, num total de mais de R$ 3 milhões, por campanhas publicitárias abusivas dirigidas ao público infantil. Estas últimas também foram resultado de mobilização de organizações da sociedade civil.

O Infância Livre de Consumismo (ILC) é um coletivo de pais, mães e cidadãos inconformados com a publicidade dirigida às crianças que nasceu como contraponto a campanha “Somos todos responsáveis”, promovido pela Associação Brasileira das Agências de Publicidade (ABAP). “Por mais informadas e conscientes que sejam as famílias, os pais não têm como combater um discurso mágico e atraente feito por adultos pertencentes a grandes e poderosos conglomerados empresariais, com alto poder econômico, que detêm pesquisas psicossociais, de mercado e até mesmo neurológicas”, avalia Marina Machado de Sá, publicitária e mestre em Políticas Públicas, uma das fundadoras do coletivo Infância Livre de Consumismo (ILC).

“Atentado à liberdade de expressão comercial”

Já a campanha “Somos todos responsáveis” defende que apenas os pais seriam os responsáveis pela proteção das crianças diante dos estímulos abusivos das propagandas ao consumismo. Para eles é importante, necessária e sadia submeter às crianças à informação. “Se a ideia é proteger as crianças da mídia, não adianta mais desligar a televisão, abaixar o volume do rádio e ficar longe das bancas de jornais”, diz Dalton Pastore, presidente do Conselho Superior da Abap. “A questão é mais complexa e merece uma discussão mais profunda, baseada em educação, e não em proibição”, complementa.

No entanto, atitudes como esta isentam o Estado e o mercado (empresas e publicitários) de quaisquer responsabilidades sobre a publicidade dirigida às crianças. “Nesta relação, fica patente a vulnerabilidade das famílias, da comunidade e da própria criança diante do discurso mercadológico”, alerta Mariana Sá.

Um alerta interessante feito por essas organizações diz respeito aos problemas causados ao meio ambiente. Segundo o ILC, o excesso de propagandas e conteúdo manipulatório dirigidos ao público infantil dificulta a educação cidadã e sustentável e vai contra a formação de um consumidor consciente, justo num momento em que o mundo repensa formas de consumo sustentáveis.

Assim cabe uma reflexão sobre o que está por trás dessa resistência do mercado no diálogo sobre a regulamentação do setor. É importante e urgente entender que isso é uma das pontas do iceberg chamado democratização da comunicação. Tema este que merece ser aprofundado, especialmente para entender o porquê de o discurso mercadológico estar baseado na censura e na defesa da liberdade de expressão. Como bem afirma Gilberto Leifert, a proibição de propaganda infantil é um “atentado à liberdade de expressão comercial”. Num país que acabou de sair de um processo de ditadura onde o calar foi um dos recursos mais (bem) utilizados, qualquer aceno que relembre esse momento é evidentemente danoso, significativo e causa aversão. Segundo o coordenador executivo da organização Andi Comunicação e Direitos, Veet Vivart, “associar a regulação, que é um instrumento democrático, interdita o debate”.

Cúmplices de violações

Daí surge outro debate sobre o porquê da importância dos pais, mães e demais responsáveis pelo cuidado direto de crianças e adolescentes, dizerem “não” aos constantes pedidos de “compra” emitidos por eles. Dizer não além de ser educativo, ajuda a criançada a entender que a vida não é o “céu de brigadeiro” que a TV mostra. Dito isso, é salutar compreender que um dos recursos da publicidade é o de se aproveitar do (grande) tempo que as crianças ficam exposta a programas televisivos, longe da presença de adultos, para impor uma lógica de consumo desenfreado, por meio de técnicas de aborrecimento (onde vencem pelo cansaço), aumento do volume no momento dos comerciais, o uso constante de merchandising, entre outras. Para se ter uma ideia do que estamos falando, as crianças brasileiras ficam até cinco horas na frente da TV, diferentemente de outros países, inclusive os Estados Unidos. No final, temos crianças obesas, sedentárias, doentes e mal informadas, para não aprofundar mais neste debate.

No final, a maioria dos pais e mães que trabalham fora de casa e, portanto, ficam longe de seus filhos, vê-se obrigado a comprar, atendendo aos pedidos insistentes do filho, na tentativa de suprir o tempo perdido. Mas é preciso entender que não se compra tempo, atenção e afeto, especialmente das crianças. Faz-se necessário e urgente refletir e criar estratégias de recompensa desse tempo a partir de momentos de aproximação, conversa, troca e atenção, onde os pais e mães fiquem com suas crianças e promovam momentos de interação com eles. Isso vale muito mais do que um brinquedo, na maioria das vezes caro, que será deixado de lado, em breve. Sem contar que é fundamental avaliar o pedido de compra. Afinal, é algo que vai ser realmente utilizado pela criança, é adequado para a idade, vai ajudá-lo de alguma forma, que habilidades serão desenvolvidas? Porquedo contrário, a velha resposta do “porque agora não tenho dinheiro”, atrapalha por não acrescentar, por não ajudar a pensar de forma sustentável e educativa. O “não” tem de estar embasado em outras motivações.

Importante resgatar que o processo de debate e regulação proposto pela sociedade civil é algo que deve inclusive acontecer dentro da esfera pública do Estado. Afinal,cabe a este ente promover e induzir os processos de garantia de direitos, uma vez que ele é o representante formal, referendado noutro processo democrático de consulta pública.

Por fim, quero lembrar que este é mais um ano de eleições e que estaremos escolhendo a/os nossa/os futura/os representantes à Prefeitura e Câmara de Vereadores. Em dois anos, escolheremos a/o presidente, governadores, senadores e deputados. E quantas vezes procuramos saber qual o plano de governo que eles propõem, nossas demandas de focar as crianças estão contempladas ou mesmo se acompanhamos esses compromissos pleiteados durante a campanha? Acredito que não. Normalmente preferimos nos omitir sob a desculpa de que política é lugar de corrupção, privilégios e impunidade. No entanto, essa postura nos coloca como cúmplice das inúmeras violações direcionadas a população infanto-juvenil brasileira.

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Texto publicado no Observatório da Imprensa, no blog O Escrevinhador e no Viração Jovem

Imagem: Renata Ursaia 

De volta

Olá a tod@s e grata pela atenção, visitas e  comentários que geraram um novo jeito de olhar a vida, em especial a minha e da minha filhota.

Retorno agora, repaginada e disposta a continuar socializando os saberes que vamos aprendendo no constante encontro com as pessoas, grandes e pequenas, letradas e não letradas, confusas, fluidas e sabidas que, feliz e gratificantemente, o Universo vai botando na nossa frente.

Estou agora num novo momento, com minha filhota perto. Num momento mais livre, calmo, terno e feliz. Participando e colaborando de um processo onde os conceitos de direitos humanos estão cada vez mais sendo discutidos e massificados.

Aliás, esse tema dos direitos é o que mais vocês perceberão presentes neste espaço de trocas, porque a intenção é essa mesma: a de trocar, de trazer mais luz e outros olhares, porque a vida, às vezes, deixa-nos embaçada. E por isso o círculo é tão importante, porque roda e chega em todas e todos. E assim vamos, num movimento de mandala, circulando pela vida e pelos saberes, aprendendo a conhecer e a entender as pessoas.

Espero realmente que todas e todos vocês gostem, apreciem e tornem a socializar...

Cheiros do coração e grata pela caminhada.

Imagem daqui

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O que é mais importante: chegar ao objetivo ou o caminho que leva a ele?

Essa dúvida tem me cutucado esses dias. Valem todos os meios para se chegar aonde se quer ou isso é irrelevante?

A gente pode se tornar rico trabalhando ou roubando, numa comparação bem grosseira. Mas essa escolha faz mesmo a diferença?

Uma vez eu ouvi que os pais devem ficar muito atentos às suas atitudes, porque eles são espelhos para os filhos. Tem até uma música do Nando Reis que fala isso: “...eu amarro o sapato da mesma maneira, por influência dos meus pais...” Essas atitudes a que se referia a matéria eram das mais complexas às mais simples, como aquela mãe ou pai que fala para o filho que há leis de trânsito e que elas precisam ser respeitadas mas que, na hora de um congestionamento na estrada a opção escolhida é ultrapassar pela direita ou pelo acostamento, afinal não é uma infração grave... ou quando a gente fala que é preciso obedecer aos mais velhos e se reportar a eles sempre, mas quando @ filh@ apanha na escola, os pais dizem que era para ele revidar (numa clara desobediência às leis daquele estabelecimento e “esquecendo” que o/a professor/a é a representante legal/ é @ adult@ naquele momento). Eu mesma já fui surpreendida com uma repreensão da minha filhota por estar dirigindo e falando ao celular ao mesmo tempo. E isso me fez ver que, ao contrário do que pensava, ela (a filhota) estava atenta ao que eu fazia mesmo, como tanto falam os psicólogos. Porque mais importante do que o que a gente diz, é o que a gente faz.

Penso que a gente precisa ficar atento especialmente ao que a gente faz, e se esse fazer está de acordo com o nosso discurso. É muito fácil termos um discurso de honestidade, de justiça e de respeito, acreditamos inclusive que somos hiper corretos, mas no fundo, no fundo nossas atitudes podem caminhar no sentido contrário ao que falamos. E só percebemos isso quando paramos e avaliamos nossa prática, numa atitude que pouco adotada e disseminada na nossa cultura. Por isso é importante parar e olhar pra trás, para nos certificarmos do que estamos fazendo.

Ultimamente eu fico me perguntando o que é mesmo importante: só chegar ao objetivo, de qualquer jeito, ou se o caminho também se faz – ou é o mais - importante. E eu penso que tudo isso que falei acima está no mesmo caldeirão, pois faz parte da nossa vida.

Acredito que contextualizar pode nos ajudar nessa reflexão. Vivemos numa sociedade onde o nível de competição é extremo. Todos competem contra todos, todos são inimigos de todos e Deus (pra quem acredita na existência) que vele por todos. E, no meu entender, essa competitividade elevou demais as exigências que cada um para com o outro e consigo mesmo. É uma verdadeira loucura. Sentimentos como confiança, respeito e amizade são cada dia mais esquecidos e a desconfiança, o medo, a crença de que o outro quer ocupar o nosso lugar vai nos deixando, cada dia, mais enlouquecidos. Vivemos num estágio de puro delírio, mesmo sem usar qualquer psicotrópico – aliás, estes têm servido para nos desligar desse mundo real.

Vamos seguindo, cada vez mais desconfiados, trabalhando além do que podemos porque não confiamos em quem está ao redor para cooperar e coordenar a mais simples das tarefas. E assim, o outro que é meu “eterno inimigo” (não seria “pseudo-inimigo”?), torna-se vítima da minha desconfiança e do meu medo, passando a ser meu algoz, porque ele pode nem ser (o algoz), mas eu não posso me dar ao luxo de pensar que ele não o é. Eu tenho que estar alerta, atento a qualquer movimentação – e preparar o contra-ataque. E se eu estou num local de “privilégios”, mais motivos tenho para me “cuidar”. Esse lugar é meu e apenas eu devo desfrutá-los.

E desse jeito vamos fingindo que estamos trabalhando em equipe e que a confiança mútua é a marca do grupo. E até que há diversos caminhos. Mas que são trilhados individualmente, até porque, no fundo, não existe grupo, não existe equipe. Não há o que partilhar.

Tem uma frase que eu vivo dizendo: “eu nasci no tempo errado!” e eu acredito nisso mesmo. Eu deveria nascer daqui a uns 500 anos à frente – ou mais. Quando a sociedade estiver mais evoluída. Quando chegar o tempo em que tenhamos aprendido a fazer como os orientais que vivem e valorizam o ritual do chá. Para eles o caminho é mais importante, assim como para mim. Onde o cuidado e o afeto que permeiam a preparação serão o que há de mais importante.

Acredito que a gente só pode saborear bem aquilo que participamos da semeadura.

É nisso que eu acredito...

caminho de pincel daqui

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A unicidade do ser ou da coragem de ser (só) gente...

Eu cresci ouvindo as pessoas reclamarem que eu falava demais. Durante um tempo eu me irritava muito, especialmente quanto eu tentava explicar que não era nada proposital, que não havia intenção de expor nada... simplesmente as coisas fluiam... e, como eu nunca fui de mentir, quando me perguntavam algo eu respondia... respondia a verdade, jurando que estava fazendo o "certo". Não adiantava muito, eu terminava sendo considerada a errada, apesar da minha fala não ter questões de outras pessoas, mas de coisas minhas... minhas opiniões, como eu olhava o mundo, como via as coisas, como sentia e refletia sobre....

Hoje eu ainda me deparo com pessoas que me fazem muito isso, repreendem-me (não sei bem se a palavra é essa, mas é o que está vindo) pelas coisas que falo, como faço ou simplesmente pelo modo de me vestir. Segundo essas pessoas, eu deveria ter “mais cuidado e reserva”. Acredito que essas pessoas são super-bem-intencionadas, mas queria trazer algumas questões para esta reflexão:

a)      Qual o real sentido do ser certo ou errado? Quem determina isso além de nós?
b)      Devemos ser certos aos olhos de quem?
c)      Como ser certo quando algo nos está aniquilando?
d)     Falar o que se pensa é transgredir ou camuflar (pra não dizer mentir - e se mutilar) pra agradar deve ser a regra?

Falar o que penso, a partir do meu sentir, foi uma decisão tomada há anos. É minha trilha ainda que isso signifique que, muitas vezes, eu fale aquelas coisas que as pessoas não querem ouvir. Mas se não querem ouvir por que perguntam? Eu não entendo isso...

Eu pauto a minha vida na sinceridade e na coerência, e isso não é lá muito fácil. Mas eu considero possível. Eu não estaria sendo eu se fosse de outra forma. Mas não significa que todo mundo deve fazer o mesmo. Entendo que cada pessoa é um ser único e como tal pensa, sente e se expressa de uma forma. Forma esta que pode, ou não, ser igual a minha. E que nem por isso é merecedor de menos respeito do que eu. Penso que cada pessoa é da forma que é e ponto.

Não é fácil ser gente... não é mesmo. Mas se a gente der um crédito às pessoas que pensam diferente de nós, podemos aprender muito. Acredito que com mais respeito a gente consegue criar um mundo muito melhor. Onde a “unicidade (nem sei se essa palavra existe) do ser humano seja a marca maior do encontro.  

Certa vez ouvi que cada ser humano é belo porque cada ser humano é único.

Certa vez eu li que as mulheres (precisam) falam muito porque no diálogo elas exumam suas dores e encontram as respostas para os que as afligem.

Eu vou continuar falando...

"E se me achar esquisita,
respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar
."
Clarice Lispector

Eu dedico este post de hoje a um novo amigo que não posso dizer o nome dele porque ele é reservado.

flor da resistência daqui

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Da importância de mudar o olhar e o foco

Tenho pensado como é estranho mudar o olhar e procurar os diversos ângulos das situações. Como perdemos tempo e energia olhando apenas para as coisas desagradáveis da vida, numa insistência quase doentia de achar que o mundo gira ao nosso redor. E não que somos nós que giramos ao redor de algo infinitamente maior. Ouvi certa vez que se acontece quatro coisas boas na nossa vida e apenas uma ruim, onde focamos nosso olhar? Justamente naquilo que não deu certo. Sofremos no coração, desprendemos energia vital e nosso corpo adoece.

Isso sem contar que sequer nos permitimos relativizar sobre o conceito do que é dar certo ou dar errado. Dar certo aos olhos de quem? O que deu mesmo errado? Por que algo não saiu do jeito que desejávamos ou planejamos deu errado mesmo? Ou nos equivocamos no nosso processo de feitura do algo escolhido? Enfim...

Penso que precisamos trocar as lentes e exercitar olhar a vida com outros olhos, por outros prismas. Acredito que iremos nos surpreender e perceber o quanto de belo e prazeroso deixamos de ver e sentir só porque estávamos nos negando a olhar verdadeiramente a vida. Nesse sentido proponho um exercício simples que também começarei. Durante o dia vá escrevendo num papel cinco coisas boas que aconteceram. Apenas as coisas boas, que trouxeram alegria, satisfação, prazer e bem estar. Ao final de cada dia leia e perceba como se sente. Depois avalie o seu estado de espírito relembrando todos os acontecimento, inclusive aqueles que você considere ruins e responda: como foi o meu dia? Como ele está findando? Qual o sentimento.

Acredito que todos nós vamos ter uma surpresa prá lá de prazerosa e feliz. Afinal, é importante acreditar que “coisas boas acontecem a pessoas boas” e todos nós somos pessoas prá lá de maravilhosas....

olhar da transformação daqui

domingo, 31 de julho de 2011

Depois das cinzas, a gratidão... ou da capacidade de se permitir renascer...

Oi!
Quero informar a tod@s que a blogueira que escreve neste espaço morreu. Isso mesmo. Morreu de morte matada, por ela mesma. Morreu porque não aguentou mais a pressão de um modelo de vida que não era a que ela tinha nascido para viver. Morreu para a tristeza e a insatisfação, a culpa, incompreensão e a ignorância que ultimamente a tirou do verdadeiro caminho.

Evitem lamentos pelo ocorrido. Ela não precisa disso. Agora, renascida e de volta ao caminho traçado por ela tempos atrás, ela está feliz, tranquila, serena e em paz. Compreende as escolhas equivocadas, os percursos que a deixaram fora do eixo e se perdoa e agradece por isso. Aliás, antes de morrer, ela pediu muito perdão... pela arrogância no trabalho desenvolvido, pelo medo que a impedia de ser feliz e de fazer outras pessoas felizes e, principalmente por ter acredita numa verdade que não era absoluta. Foi um exercício difícil, muito sofrido mas, num certo momento, em seu leito de morte, eu falei pra ela algo que ouvira num filme: “antes de ficar bem, piora” e expliquei que para uma limpeza verdadeira, como aquela que ela estava se propondo com aquela morte, era preciso entrar em contato com a sujeira e, assim, ela teria que sujar as mãos. Mas ela foi firme e disse: “vamos lá!” e assim foi.

Como uma fênix ela ressurgiu das cinzas e agora respira outros ares, observa novas possibilidades e desafios. Mas sabe que pode seguir adiante, ela reencontrou o caminho e voltou fortalecida desse vôo.

E agora, quando a encontro e pergunto como vai a vida ela sorri e diz: cada vez melhor! Sorri. Agradece e segue, tranquila e segura... olhando firme para o horizonte. É, indicutivelmente uma nova mulher.

p.s.: Muito Obrigada, Robson, pela sugestão de escrever sobre esse processo, xeros!

fênix mulher daqui

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sobre as dores que o corpo carrega ou da desnecessária teimosia nossa em não ouví-lo...

Olá!

Há muito tempo atrás eu ouvi de uma sábia que o ser humano possui sete corpos, e o último estágio, o que vemos, é o corpo físico.  Essa é a forma mais bruta, digamos assim, ou seja, é neste que as mazelas se apresentam, as dores, as doenças. Salvo engano a filosofia oriental segue esse princípio e diz que as doenças são a forma do Universo dizer que algo não está bem, que é preciso parar, refletir e reorganizar. Mas poucos são os que escutam e param. Somos programados para não parar, como se a vida fosse acabar no instante seguinte e, portanto, precisamos aproveitar o máximo agora. E assim, deixamos de ouvir o que o corpo está dizendo. E assim deixamos de ouvir o que precisamos para escolher pelo melhor. Porque o melhor que nos é dito, muitas vezes não é o verdadeiro melhor.

Há algumas pessoas que acreditam piamente que tudo se resume ao bem estar desse corpo, mas condiciona esse mesmo corpo, que tem origem limitada, a esforço e situações de limite, abusando dele até a exaustão. Até que o Universo vem e te dá uma forçada para que pares. Foi assim comigo, em mais de uma ocasião. A primeira vez eu fiquei surpresa e nem quis pensar no que tinha acontecido, dado o inusitado do fato. Eu estava organizando um evento muito importante até que de repente o carro que viria me buscar não veio e eu tive que pegar uma carona, na tarde do evento (que seria à noite). Precisei atravessar a rua e simplesmente caí. Uma queda do nada, tropeçei no nada e meti o meio da perna na quina do meio-fio. Vocês não fazem idéia da dor, eu paralisei. Forçei o corpo, respirei fundo e o máximo que fiz foi botar um saltinho baixo, e fiz o evento. No outro dia, estava lá com a perna imobilizada e uma bronca do médico e da família. E alguém me disse em tom de bronca: "foi preciso isso, não é menina, para você parar?!" Nunca esqueci essa cena.

A segunda parada está sendo agora. Os últimos sete meses tenho tido crises sucessivas de amigdalas e faringite. Nunca tiinha tido isso, não com essa intensidade e constância. Até que cá estou, de licença média e sabendo que forçei além do devido, novamente o corpo. Foi um período difícil esse, muitas incertezas e a necessidade de olhar o futuro com um novo olhar. E isso causa medo, muito medo e eu não consegui relaxar e parar. Até então. 

Mas esse exercício, essa parada de agora, tem sido interessante. A gente se redescobre nele e descobre pricipalmente que podemos ser melhores e que podemos ser mais. Mais e melhores do que temos sido até então. E é para desafio que estou olhando e tentando decifrar o enigma. Espero que com isso o corpo fique mais leve, mais delicioso ao toque, mais espontâneo e saudável... tomara!

Deixo esse recado: cuide mais do seu corpo, cuide mais de você. Respeite os seus limites e o Universo te agradeçe!

imagem de corpo saudável e feliz daqui

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Licença médica ou sobre o tempo que o Universo nos obriga a repensar a vida...

Olá a tod@s!
Estou de licença médica. Nos últimos três anos esta foi a segunda, que ocorreram pelo mesmo motivo (problemas de faringite e amigdalite e, segundo a minha médica, o diagnóstico é que estou engolindo muitos sapos! Acho que ela está certa... mas eles não são eterno...)

Da primeira vez ou sempre que algum motivo de (perda de) saúde, fim de semana, feriado prolongado me distanciavam do trabalho eu enlouquecia. Não largava o celular, nem o notebook, pirava se a internet caia ou ficava lenta, num ritmo quase igual ao do dia-a-dia, na insistência de não "desligar". Ufa!!!! Só de lembrar eu perco o fôlego. Vamos lá, respiraaaaaarrrrrrrr... hhhhhuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmm!

Num primeiro momento eu fiquei preocupada e apreensiva, pois parar tem sido raro na minha vida nos últimos três anos. Eu só tenho feito trabalhar, trabalhar e trabalhar. Fico meio sem norte, sem saber o que fazer, especialmente por estar longe da família e, sinceramente ainda não estou acostumada com esta terra de todos os santos. Apesar de todo o fascínio que ela me dá, muito me estranha também... e nesse estranhamento eu me recuo...

Mas dessa vez está sendo diferente... muito diferente! Tô fazendo o esforço inverso: me alimentando melhor, respirando com mais calma e descansando. Abro o e-mail institucional e o pessoal no máximo duas vezes ao dia (antes eles ficavam abertos direto), não li nada que lembrasse o trabalho, não liguei... nada. Tô apenas curtindo o momento. kkkkkkkkk Parece até uma aberração não, é? Alguém curtir uma licença médica. Pois é, eu estou. Aliás, esta está sendo literalmente uma licença para médic@s. Aproveitei o tempo e estou fazendo uma atualizada médica: fono, exames, dentistas enfim, quase tudo que o tempo tá dando, mas com calma, sem estresse, nem aperreio. Tô realmente me cuidando. Tô precisando (afinal, como eu mesma digo: se eu não cuidar de mim, quem vai cuidar?).

Também aproveitei para procurar uma atividade física, pois há tempos meu corpo pede. Mas é impressionante como o corpo está mal acostumado a esse ritmo frenético. Apesar de ter parado um pouco e dos cuidados dos últimos dias, meu corpo doe (doe e muito!). Tadinho dele, todo ressentido e teso por tanto estresse, noites mal dormidas (com direito a pesadelos e tudo, aff!), aperreios e etc, etc, etc.... tô apelando para os chás relaxantes antes de dormir e amanhã acredito que vai melhorar, depois da aula de Yoga que experimentarei num espaço aqui perto da minha casa e onde farei o pilates. Em breve este corpitcho vai estar lindo e esticado, todo nos conformes kkkkk)

Voltando..... Eu estou adorando como tudo isso está se dando. Tudo fluindo de uma forma quase mágica. Como é bom quando as coisas acontecem assim, sinto como que estivesse fazendo o que deveria fazer, da maneira e com as pessoas adequadas. Sinto-me mais segura e, num período marcado por tantas dúvidas e incertezas, este momento chega a ocupar um lugar muito precioso para mim.

Talvez por isso esteja sendo tão bom e proveitoso essa parada obrigada. Porque antes eu não me permitia, como estava numa posição de coordenação eu tinha que estar sempre à disposição, antenada com tudo. E agora não, as posições mudaram e eu agora estou num patamar que tem se apresentado melhor, com menos responsabilidade, menos cobrança e menos necessidade de estar à frente porque por um lado é bom e desafiador, mas por outro, é exigente demais conosco e com quem está conosco. E assim, eu também posso agora respirar com mais calma, correr num ritmo mais lento, estar inteira com as pessoas que eu tenho escolhido estar e olhar a paisagem com mais calma, sem pressa, sem outras coisas na cabeça que me impediam de ver o colorido. São esses prazeres que eu estou (re)descobrindo agora.

Isso tudo com "... a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo..."

Acho que agora eu aprendi o que o Universo se esforçou em me dizer e eu teimei em não escutá-lo...



imagem mulher em contemplação daqui

segunda-feira, 25 de julho de 2011

“Ver e não ligar” ou simplesmente a história de alguém que não queria morrer...

Essa é uma frase que está no quadro de avisos de uma sala de trabalho. Na verdade é um quadro onde são colocadas frases para inspirar o dia-a-dia dos funcionários.

Ela poderia ser interpretada como uma frase de desleixo ou mesmo de irresponsabilidade. Mas na verdade foi posta lá para servir de limite às iniciativas dos funcionários às tarefas que são da competência dos mesmos. Num ambiente de profissionais cheios de espírito autônomo, idéias criativas e iniciativas para que tudo dê certo um elemento que oriente ao foco é importante.

Como a resposta às características apresentadas acima nem sempre são vistas como positivas, por quem está no poder, a equipe encontrou em frases como esta um jeito de se privar de aborrecimentos e assédios. Isso porque implica em literalmente ver as coisas erradas e as injustiças, corriqueiras do mundo do trabalho, e abstrair.

Exercitando a abstração nos privamos de sofrer com aquilo que não podemos resolver, por não termos governabilidade para resolvê-las. É uma forma de dizer bonito o que vivo comentando com amigos sobre a necessidade de ficarmos “dementes”, desligados... vendo e não ligando...

E assim vamos levando a vida: redefinindo posturas, condutas e tentando adequá-las ao que nos é exigido, quando não imposto. Acho tudo isso uma droga, mas o que fazer quando a estrutura é maior que você e, pra piorar, neste momento, você precisa desta (indigna) estrutura para sobreviver? Que outra forma senão se adequar a ela, ainda que temporariamente?

Penso que o “pulo do gato” está na nossa capacidade de fazer essa “adequação” sem nos violentarmos muito (!). Porque só o esforço para se adequar a práticas que você desacredita e até repudia, num caso mais extremo, já é por si só uma violência a você e às suas crenças. Assim, qual a opção que resta? Sinceramente não vejo muitas. Apenas a de respirar fundo, lembrar do motivo que ainda te prende a esta situação, refletir o peso dos prós e contras e decidir.

Neste momento de reflexão é importante olhar bem pra dentro da gente, revisitando nossos valores, nossas crenças, nossas propostas e, principalmente, fazer aquele esforço danado para ouvir a vozinha interior dizendo qual a nossa vocação, o que te dá prazer, o que é mesmo que te realiza e sem o qual você não conseguirá ser feliz. Feito tudo isso, ouvido os zilhões de conselhos que as pessoas próximas sempre estão à disposição de dar, na melhor das intenções, pare. Respire fundo novamente e se pergunte qual o caminho mesmo que você escolheu, “o que (e quem) você quer ser quando crescer?” e veja o tanto que já caminhou neste sentido. Se a resposta obtida justificar mais esse esforço e solicitar que você continue no ambiente em questão, permaneça.

Mas permaneça de coração tranqüilo e mente prática. Faça exatamente aquilo que você precisa fazer, fique o exato tempo que você precisar ficar e ponto. A dedicação, a fidelidade, a energia devem estar voltadas agora para este sonho que você acaba de redescobrir e reavivar na sua mente e no seu coração. Mantenha-se firme neste propósito. Trate bem a todos que estão à sua volta e relaxe. Agradeça. Agradeça e Agradeça.

Respire fundo novamente e cuide-se... seu sonho está perto de ser realizado. Só por isso, por ter sobrevivido, por ter renovado suas esperanças, agradeça, agradeça e agradeça.



imagem em contemplação daqui