Chego com uma amiga de um show quando, ao entrar no primeiro portão do prédio onde moramos, deparamo-nos, para nossa imensa surpresa, com altos gemidos. Logo percebemos serem de prazer. Eram gemidos de fazer os personagens do sexy filme 9 ½ Semanas de Amor corar de vergonha.
Gemidos acalorados, extremamente prazerosos, altos, que antecipava o ápice sexual. Uma delícia! Ficamos tão impressionadas com o referido som que, por alguns instantes, paramos e ficamos ali, incapazes de dar mais um passo. Só ouvindo, em apneia, para não estragar a cena. Com certo esforço, saímos do nosso transe e, finalmente, conseguimos entrar.
Ficamos ali tecendo altas teses do que leva uma pessoa a sentir tamanho prazer; “como é que ela consegue?” Minha amiga estava revoltada com o que acabamos de presenciar, digo, ouvir. Foi, confesso, revoltante ... e ultrajante...
Olhei para a cara dela e disse: “você está reclamando porque está é com inveja!!!! Confesse, porque eu mesma estou aqui me mordendo. Poxa! Depois de um show desse, com um cantor fazendo charme do jeito que o cantor fez.. aff... dormir sozinha é o O! Ninguém merece!”
Mas na falta de opção, uma vez que somos hetero convictas, só nos restou rir de nos acabar, tomar um belo banho (frio!) e dormir.
Um parêntese
O show foi um verdadeiro espetáculo e o cantor foi um show a parte. Sabe aqueles homens que exalam charme? O tipo de homem que é o meu número. Foi paixão à primeira vista. Acordar com aquela voz no meu cangote, aiiiii!!!!! Era tudo o que queria, minha Mão Oxum. Simplesmente ma-ra-vi-lho-so!!!
Como disse minha amiga, perfeito!
Mas, como nos últimos eventos com um quantitativo de mulheres absurdamente superior ao de homens... o que para muitas mulheres é um problema, especialmente na capital baiana. Show significa “beijar na boca” e isso, poucas conseguiram... a demanda estava mesmo superior à oferta. Pra mim, foi irrelevante. Eu, raramente vou para o mundo com este fim. Vou para curtir a música, o ambiente, as pessoas e dançar... dançar me energiza, empolga, desestressa, eleva minha autoestima e humor. Quer me ver feliz? Leve-me para dançar.
Acordei quebrada*! Mas feliz!!!!!
No outro dia fui trabalhar (apesar da ressaca por ter dançado a noite toda). E lá chegando, lembrei-me do episódio que nos recepcionou (rsrsrs). Fui repassando passo a passo aquela vivência e fiquei pensando na fala que tive sobre ter inveja. Como é que pode a gente ter inveja do prazer alheio? Vixe! Moisés quebraria as tábuas sagradas, caso imaginasse essa situação.
O pior foi perceber que ele foi real. Naquele momento ficamos, eu e minha amiga, lamentado da nossa situação de solteiras solitárias.
E ouvir os gemidos de prazer da minha acalorada vizinha me fez questionar “se” e “o quanto” eu estou aberta para essa vivência. Tô me perguntando direto se o meu espanto está ligado a minha (in)capacidade para o prazer ou se é puro preconceito.
Sim... preconceito. Essa é uma das formas dele se apresentar. Não saber lidar com o que é do outro e que eu não tenho. E pior, achar apenas que o prazer é algo do masculino.
Outro parêntese
Há pouco, enquanto escrevo, entra um amigo no MSN, que tem um borogodó**, e comento com ele o ocorrido. A primeira coisa que ele me diz: “o cara deve ser bom!... ”. Pô, impressionante isso. Achei um absurdo, muito machismo. E quem disse que o desempenho é unilateral?
Voltando
O que pude perceber é que, sobre nós, especialmente as mulheres, pesa o (pré)conceito de que o prazer está relegado apenas aos homens, que a relação gira em torno do falo e que “é normal” a mulher não gozar. Que quando uma mulher se permite não apenas essa vivência como também a manifestação (pública) dela, soa estranho, obsceno e devasso, até para os nossos ouvidos femininos. Sei que, infelizmente, não estou falando “bobagem”, como diria minha filhota.
Há aproximadamente 14 anos, fiz uma profunda pesquisa sobre o comportamento sexual, para conclusão do curso de jornalismo, que culminou com a redação de vários textos intitulado “O caminho do orgasmo”. O que mais me chama a atenção é que o documento foi escrito em 1997 (pesquisas realizadas desde 1995), mas que continua atual. E isso reflete a crueldade dessa realidade que envolve o prazer.
Último parêntese
Pensando nisso, vou disponibilizar esse documento neste blog. A proposta de construção dele era para que fosse de acesso às pessoas e não ficar guardado na universidade.
Bem, agora aprendi com minha vizinha que devemos ter coragem de nos permitir ao prazer, proporcionando, mas se permitindo receber.
Finalizo esse post com um VT da entrevista de Tom Zé por Jô Soares, sobre o funk “to ficando atoladinha” e que nos ajuda a refletir um pouco sobre essa prisão a que nós fomos submetidos, criando o medo do prazer.
Vizinha você é, literalmente, foda!
Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!
* muito cansada
** charme, encanto pessoal, atração ímpar
Imagem sexy aqui
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ResponderExcluirAmiga, como sempre você foi a voz de muitos, e hoje especialmente a voz de muitas mulheres. Parabéns!!! dei muita risada imaginando não repassando a cena você e tua amiga (eu) paralisadas ouvindo os gemidos de pazer da tua vizinha, ops! nossa vizinha ... rsrsrs!!!
ResponderExcluirCconcordo contigo, mais uma vez essa tua vizinha, essa nossa vizinha é FODA!!! e confesso que aprendi também com ela (risos).
Beijos
P.S Traga boas histórias de Recife... rsrsr!!!
amigaaa, vc estava com dor de cabeça quando escreveu este post, né? duas frases não combinam com vc: "como é que ela consegue?" e "minha (in)capacidade para o prazer"... consegue o quê? gritar? ser livre? porque gozar vc sabe bem como conseguir! e a outra frase então, vixe, total não combina...
ResponderExcluirah, transgressão hoje é se manter heterosexual!
beijoca
kkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirMari, vc é uma figura!!!
mas a 1ª frase não foi minha não...
mas tava com dor de cabeça sim... e muita... ainda de ressaca!!!!
e quando me referi a (in)capacidade para o prazer era sobre a falta de coragem (talvez o termo melhor fosse esse!)de se entregar aó prazer.
pronto!!! era isso.
xeros,
Que fato interessante te ocorreu...como um ato tão instintivo pode provocar espanto...fico pensando quantas prisões nos aprisionamos, mas necessariamente não precisamos ficar nelas. Agora me permito mais, sou mulher, quero sentir prazer, porque não? Adorei seu texto, as conexões que foi fazendo e o vídeo de Tom Zé, a liberdade com que ele fala de um funk que realmente mexe com a energia...muito bom!
ResponderExcluirBjoos
Amiga,
ResponderExcluirTô imaginando a cena presenciada por vc e sua amiga, isso ocorre em "quatro paredes" é o que pensa quem está lá... é bom mesmo pensar assim e se soltar... bjs bom carnavallllll
Fá