quinta-feira, 24 de março de 2011

O sexo na história

Motivo de vergonha e preconceito no passado hoje o sexo está na boca do povo

O botão do controle remoto é acionado e a TV começa a funcionar. Na tela a imagem de um casal simulando uma relação sexual numa propaganda de uma marca de relógio. Segundos depois, mais apologia ao sexo em anúncios de discos, cosméticos e revistas provando que ele já faz parte do nosso dia-a-dia. O sexo perdeu o tabu e chegou às escolas, ruas e consultórios médicos numa discussão incessante sobre a busca do prazer. Todos buscam hoje satisfação nas relações homo e heterossexuais.

A geração dos anos 60, nos seus questionamentos provocou um estado de indefinição que ainda hoje não foi transposta. Segundo Heloneida Studart, no livro Mulher: A Quem Pertence O Seu Corpo, em 1968, surgiu um clima confuso de insegurança negada e ciúme sufocado. Uma grande quantidade de mulheres acreditava que tivera chegado sua vez e hora, era a ocasião de considerar o amor “tão simples como uma coca-cola”. Em Ipanema, elas perguntavam abertamente “quem quer transar comigo?” enquanto os casais de “papel-passado” anunciavam relações abertas onde o marido procurava conquistar as amigas e as mulheres iam para a cama com os amigos mais próximos.

Companheiros de caminhada - Na verdade, a Revolução Sexual representou a busca da libertação afetivo-sexual o que exigiu também uma conotação política. Como afirma Silvana Melo especialista em terapia sexual de casais, saiu-se do extremo da repressão para o liberalismo total. Esta geração do hoje vive a tormenta do processo de mudança: passou uma experiência em que a repressão era total e não houve satisfação. Agora passa pela época da liberação, das relações sem compromissos e que por sua vez também não está satisfazendo. Já a psicóloga Aida Novelino, que prepara a tese de mestrado sobre feminilidade, contesta essa revolução. “A mudança radical é de fachada porque as concepções se mantêm”. Para ela, só haverá uma mudança, nas relações de gênero, quando forem dissociadas a feminilidade da maternidade e a honra feminina da sua postura sexual.

A Igreja Católica entende que a revolução sexual chegou provocando mudanças e trazendo novos comportamentos nem sempre aceitáveis. Segundo o padre salesiano Luis de Gonzaga, este liberalismo trouxe como ponto positivo a discussão da realidade sexual, sempre colocada como um tabu pela sociedade e, como negativo a colocação das relações afetivo-sexuais em outro extremo. “Essa liberação a Igreja condena. Ela transforma a pessoa humana em objeto de uso, de prazer somente onde o sexo é separado da pessoa humana”, afirma.

Naturalidade - Mas, falar de sexo abertamente é algo que ainda deixa muitos envergonhados, desconcertados e cria um clima de desconfiança no ar. Apesar de existir dúvidas e incertezas acerca do tema.

No entanto, nem sempre foi assim. “No início do século XVII, o assunto era tratado com mais liberdade e o prazer era discutido como algo natural”, afirma Michel Foucault no livro História da Sexualidade. Ao contrário de hoje, quando para muitos a satisfação sexual tem um tom de utopia. Ele explica que os atos e as palavras tinham livre acesso em todos os ambientes inclusive na presença das crianças.

De repente, tudo mudou e a sexualidade foi limitada à procriação. “A família cristã o confisca e o Estado junto com a Igreja ditam a nova lei”, conclui Foucault. Historicamente era a burguesia quem estava no poder e a revolução capitalista tomava corpo. Explorava-se a força de trabalho e o ato sexual que não fosse reservado à procriação era intolerado. O prazer passou a ser escandaloso, indecoroso, proibido e, principalmente, subversivo. O ato sexual toma uma feição política passando a ser reprimido, a inexistir e a ser mutilado. O simples fato de falar dele possui, ainda hoje e em qualquer ambiente, um ar de transgressão.

Estupro do Divino - Segundo o Pe. Gonzaga, essa posição da Igreja reflete a filosofia platônico-agostiniana que trazia uma visão negativa onde o corpo era a prisão da alma. Ele tinha de ser evitado e a negação do prazer elevaria a alma. Era uma leitura radical e fundamentalista da Bíblia. Condenava-se tudo relacionado ao sexo e ao corpo como manifestação de uma tendência para o mal. Mas, segundo ele, a Igreja Católica evoluiu e revalorizou essas questões, seja numa reflexão teológica ou filosófica de descoberta da pessoa como uma integridade. “O sexo é agora uma expressão vista na totalidade da pessoa humana”, finaliza.

Hoje, a sociedade caminha para a igualdade. Onde se têm antecipadamente definidos os papéis de homem e mulher. Aos poucos, as pessoas têm se permitido relações afetivo-sexuais de companheirismo onde se divide, de fato, as alegrias e tristezas, sonhos e utopias. “Como diz a própria palavra aquele que compartilha, que caminha ao lado e, principalmente, que está no mesmo nível hierárquico”, conclui Silvana Melo.



Fonte: Projeto Experimental de conclusão do curso de Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco, 1997, da jornalista Rosely Arantes.


 
Imagem pílula

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