segunda-feira, 21 de março de 2011

Quanto mais melhor

Scarlet Pitiguary entra em cena e mostra o drama de milhares de pessoas viciadas em sexo

É noite de lua cheia. Basta o satélite despontar no horizonte que a estonteante Scarlet Pitiguary, personagem vivido pela atriz Luíza Thomé, enche-se de desejo e é capaz de sair uivando feito uma loba pelas ruas da pacata Greenville. Tudo isso acontece em A Indomada, novela das oito, da Rede Globo. A cena seria até engraçada se não retratasse, ainda que superficialmente, o tormento em que vivem os compulsivos sexuais, ou seja, os viciados em sexo.

Para essas pessoas, o sexo não é apenas uma forma de prazer. É uma obsessão, algo que está acima de tudo. Elas precisam praticá-lo a todo o momento, não importando à hora ou local. Os compulsivos sexuais são incontroláveis e nessa busca pelo prazer se expõem a toda sorte de riscos, pois não existe um critério para a satisfação e a promiscuidade reina no universo compulsivo. Isso tudo sem contar no grande problema pessoal que a compulsão traz.

Comparando com o alcoolismo e toxicomania, a compulsão é uma doença. Na verdade é um distúrbio psicológico que se apresenta como um desvio de comportamento. Hoje ela é objeto de estudo da psicologia e da psiquiatria. Durante muito tempo, a compulsão era  vista  como  um  comportamento  excêntrico de alguns poucos milionários e famosos como o presidente americano John Kennedy ou a atriz Marilyn Monroe. Mas há poucos anos, o ator Michael Douglas trouxe à tona o problema quando virou notícia de primeira página ao se internar numa clínica especializada. Seu problema: vício em sexo.

Descontrole - O maior problema que atinge as pessoas viciadas em sexo é a falta de controle: parceiros desconhecidos, casas de massagem, saunas, prostitutas, assédio sexual, masturbação ou homossexualismo. Depois, o resultado: medo, angústia, tristeza, vergonha, depressão que só será aliviado com uma nova relação sexual.

Mas com o avanço da medicina é possível hoje, tratar e o que é melhor, curar a doença. Ela está associada aos transtornos obsessivo-compulsivos (TOC). Segundo o psiquiatra José Alberto Del Porto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), as compulsões podem ser estudadas como um distúrbio do controle dos impulsos.

“O comportamento compulsivo é algo que se impõe à consciência da pessoa com a finalidade de diminuir um estado de desconforto. É o caso, por exemplo, daqueles que têm mania de limpeza. Lavar as mãos faz com que a ansiedade diminua, mas não proporciona prazer. No caso do sexo compulsivo o ato em si é prazeroso, o que complica a situação”, afirma Del Porto.

O tratamento indicado é a psicoterapia individual ou em grupo e dependendo do caso, a administração de medicamentos. No Brasil, existem programas, como o Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (Dasa), que tem o modelo adaptado dos Alcoólicos Anônimos.

Drama - Extraído da Revista Globo Ciência (setembro/96), o relato do desenhista P. L., de 32 anos, fundador da unidade paulista do Dasa - a mais ativa do país - retrata o drama dos compulsivos sexuais. “Desde os dez anos, quando a doença se manifestou em mim na forma de masturbação excessiva, minha vida se tornou um inferno. Desde então, não parei mais de pensar em outra coisa, porque a compulsão sexual é uma doença progressiva. Na adolescência, seduzia as garotas, mas também tinha relações homossexuais. Transava também com primos e primas, mas os problemas ganharam uma dimensão insustentável quando passei a abusar de menores. Cheguei a violentar minha irmã, na época ainda criança. Tudo isso, dava-me depressão e sentimento de culpa, mas eu não tinha controle de meus atos”.



Fonte: Projeto Experimental de conclusão do curso de Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco, 1997, da jornalista Rosely Arantes.
Foto Luíza Thomé daqui

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